Às voltas com o Cachoeiragate, o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, decidiu reforçar o caixa da Agência Goiana de Comunicação, autarquia vinculada à Casa Civil. Transferiu R$ 20,5 milhões de um fundo de investimentos para a área de “divulgação e veiculação das ações governamentais.”
A migração da verba foi formalizada por meio de dois decretos (141 e 142). Assinados por Perillo em 14 de maio, foram publicados no Diário Oficial do Estado no dia 17, quinta-feira (confira aqui). Nove dias antes, o jornal ‘O Popular’ veiculara pesquisa que atribuíra à gestão de Perillo um índice de desaprovação de 48,9%.
Num dos decretos do governador, foram transferidos para as arcas da agência que cuida da publicidade oficial R$ 5,5 milhões. Noutro, mais R$ 15 milhões. Nos dois casos, as verbas foram subtraídas do Fundes (Fundo de Fomento ao Desenvovimento Econômico e Social de Goiás).
Entre a assinatura e a publicação dos decretos, Perillo anunciou, em 15 de maio, a destinação de R$ 18 milhões para reformar as 120 escolas de tempo integral de Goiás. Quer dizer: aplicou em estabelecimentos nos quais estudam 17 mil alunos R$ 2,5 milhões a menos do que o montante que tonificará a publicidade.
A movimentação de Perillo dá ideia do grau de preocupação do governador com a erosão que o Cachoeiragate provoca na sua imagem. Há três dias, o governador esteve em Brasília. Longe dos refletores, participou de uma reunião na casa do senador e presidenciável do PSDB Aécio Neves (MG).
Nesse encontro, um grupo seleto de congressistas tucanos mastigou pão de queijo e digeriu explicações de Perillo. O governador reconheceu que as notícias que o vinculam a Carlinhos Cachoeira têm efeitos corrosivos, especialmente junto ao eleitorado de Goiás.
Além do anfitrião Aécio, ouviram Perillo o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE); os líderes da legenda no Senado, Alvaro Dias (PR), e na Câmara, Bruno Araújo (PE); os senadores Aloysio Nunes (SP) e Cássio Cunha Lima (PB); e os dois representantes tucanos de Goiás no Senado: Cyro Nogueira e Lúcia Vânia.
Nas páginas dos inquéritos da Vegas e da Monte Carlo, as duas operações deflagradas pela Polícia Federal contra a quadrilha de Cachoeira, abundam indícios de que o contraventor infiltrara-se na gestão de Perillo. O governador não negou o inegável. Mas atribuiu a infiltração ao senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO).
Na versão de Perillo, Demóstenes dispunha de uma cota de nomeações no seu governo. Segundo disse, a exemplo “do Brasil todo”, também ele ignorava que o senador mantivesse relações umbilicais com Cachoeira.
A nenhum dos tucanos presentes ocorreu perguntar a Perillo se a cota de Demóstenes incluía também a chefe de gabinete do governador, Eliane Gonçalves Pinheiro. Uma personagem afastada da sala ao lado da de Perillo depois que vieram à luz os grampos que revelaram diálogos dela com prepostos de Cachoeira.
Nas escutas telefônicas colecionadas pela PF, o nome de Perillo pinga dos lábios de Cachoeira e de integrantes do seu bando 237 vezes. Num dos grampos, soa a voz do próprio governador. Ele parabeniza o contraventor pela passagem do aniversário. Liguei porque o Demóstenes pediu, disse Perillo aos tucanos.
Em outro de seus achados, a PF descobriu que uma casa vendida por Perillo no elegante condomínio de Alphaville, em Goiânia, foi paga com três chegues assinados por Leonardo Almeida Ramos, um sobrinho de Cachoeira. O contraventor morava no imóvel. Foi lá que a PF o prendeu, em 29 de fevereiro.
No encontro do pão de queijo, Perillo disse que não sabia que Cachoeira estava por trás da compra da casa. Alegou que detalhes como a titularidade dos cheques escaparam-lhe porque não cuidou diretamente da transação. De resto, afirmou que, se quisesse fazer um negócio escuso, a casa não constaria de sua declaração de bens e os cheques não teriam ido parar na sua conta. Os tucanos deram-lhe crédito.
Perillo reiterou que está disposto a depor na CPI do Cachoeira. Mas ponderou que não gostaria de atravessar o escândalo como único governador a passar pela comissão. Deseja que sejam convocados também os governadores do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), e do Rio, Sérgio Cabral (PMDB).
Capitaneado pelo PT, o bloco governista da CPI opera para evitar que o desejo de Perillo seja atendido. A votação dos requerimentos de convocação dos governadores foi adiada para o mês que vem. O petismo imagina que, até lá, vai ficar claro que apenas apenas o depoimento de Perillo encontra amparo nos fatos.