sábado, 25 de junho de 2011

ACM Neto: ‘Política vive uma síndrome do adesismo’

‘O Maior amigo de Serra  no DEM  está no colo de Dilma’
‘Kassab partiu para destruir o DEM. Partido não acabou’
‘Projeto da oposição precisa ser construído, não existe’
DEM  e  PSDB  ‘têm  que ter a coragem de ir  para a  rua’

  Sérgio Lima/Folha
O DEM ainda se chamava PFL quando o deputado federal ACM Neto obteve seu primeiro mandato, em 2002. Chegou à Câmara numa má hora.
Seu partido assumira o poder pouco depois de as caravelas de Cabral aportarem em Porto Seguro. Com a eleição de Lula, virou oposição.
Herdeiro de uma dinastia cevada à base de cargos e verbas, o neto de ACM e sobrinho de Luis Eduardo Magalhães vive o seu pior momento.
Líder de uma legenda à deriva, ele desperdiça saliva tentando convencer os liderados de que oposição não é sentença de morte política.
“A gente tenta mostrar que pode ter um projeto futuro, mas boa parte dos políticos só enxerga o dia de amanhã. Os políticos acham que só sobrevivem nas barras da saia do governo”.
ACM Neto falou ao repórter Leandro Loyola. O resultado da conversa foi às páginas da revista ‘Época.
A pregação do líder surte pouco efeito. Apartados dos cofres há quase uma década, os partidários de ACM Neto parecem exaustos da privação.
“A política vive a síndrome do adesismo”, ele reconhece. Vê na trajetória do ex-PT um modelo de ação:
“O PT viveu mais tempo na oposição do que está vivendo no governo. [...] Foi menor do que o DEM é hoje. [...] Teve um projeto claro, soube ir para as ruas e soube conquistar o poder”.
Advoga para a opositores de hoje um fórmula análoga. Além de elaborar uma plataforma, “que não existe”, acha que a oposição tem de perder o medo de ir às ruas.
Em 1995, quando FHC iniciou o seu primeiro mandato presidencial, o DEM era a segunda maior bancada do Congresso.
Sob o tucanato, chegou a presidir as duas Casas do Legislativo: o avô de ACM Neto comandava o Senado. O tio dava as cartas na Câmara.
Ex-Arena e ex-PDS, o pefelê virou DEM. Depois, pôs em pé um projeto de poder voltado para o ano 2000. Permitia-se sonhar com o Planalto.
Hoje, sem projeto, o DEM assiste à migração de seus quadros para o PSD do ex-filiado Gilberto Kassab e flerta com a ideia de fundir-se ao PSDB.
Os devaneios presidenciais foram substituídos pelo pesadelo do risco de extermínio. Bornhausen, ex-timoneiro do ‘Projeto 2000’, faz as malas.
Contra todas as evidências, ACM Neto diz que seu partido “não acabou”. E capricha nos ataques a Kassab:
“Eu não posso conceber que o maior amigo de Serra no DEM esteja no colo de Dilma”. Vão abaixo algumas das declarações de ACM Neto:
– A sedução do governo: A política brasileira vive a síndrome do adesismo. Muitos se dirigem a mim envergonhados: “Olha, gosto de você, gosto dos meus amigos de partido, devo muito ao Democratas, no entanto eu só vou sobreviver se virar governo”. A gente tenta mostrar que pode ter um projeto futuro, mas boa parte dos políticos só enxerga o dia de amanhã. Os políticos acham que só sobrevivem nas barras da saia do governo.
– A resistência: [...] Uma democracia forte não se sustenta sem uma oposição combativa. [...] O PT viveu mais tempo na oposição do que está vivendo no governo. Em dado momento, o PT foi menor do que o DEM é hoje e, no entanto, teve um projeto claro, soube ir para as ruas e soube conquistar o poder.
– A falta de estratégia: [...] A oposição precisa sair dos corredores do Congresso e ir para as ruas. Tem de acabar com esse medo de ir para as universidades debater, medo de ir para os sindicatos debater, medo de ir para as fábricas discursar, medo de buscar os jovens. Esse ambiente do Congresso é um ambiente onde todo mundo está protegido. Tem de ter a coragem de ir para a rua.
– A ausência de discurso: Uma plataforma da oposição precisa ser construída, ela não existe. Os partidos precisam fazer pesquisas, discutir e ter um arcabouço de propostas nacionais e locais. Acabou essa história de um candidato a presidente achar que vai assumir um discurso nacional ou conhecer a realidade local na véspera da eleição. Outra tarefa é fiscalizar o governo.
– O DEM acabou? Não, o partido não acabou. O Kassab partiu para destruir o DEM. Só que nós temos parlamentares que têm compromisso com o país – porque manter o DEM de pé, manter a oposição viva é ter compromisso com o país e com a democracia.
– O contra-ataque: Eu não posso conceber que o maior amigo de [José] Serra [candidato do PSDB à Presidência em 2010] no DEM esteja no colo de Dilma.
– A incoerência: Eu fiquei abismado quando vi a senadora Kátia Abreu dar uma entrevista dizendo que estava “louca para falar com a Dilma”. Eu, que já tive oportunidade de ouvir a senadora Kátia Abreu fazer comentários sobre o PT, Dilma, Lula – prefiro publicamente não reproduzir as coisas que ouvi –, fico assustado de ver a incoerência das pessoas.
– O que acha do PSD? Partido Sem Decência. A maioria das pessoas que compõem o PSD são pessoas sem expressão política. Eu não posso acreditar num partido que diz que não é de governo nem de oposição; não é de direita, não é de centro, não é de esquerda.
– A fusão com o PSDB: No dia 5 de outubro vencerá o prazo das filiações partidárias para quem vai disputar a eleição de 2012. De que adianta falar de fusão, se até 5 de outubro seria impossível concluir um processo de fusão? Eu acho que o DEM tem de fazer sua reestruturação, o PSDB tem de se fortalecer e, aí sim, os partidos – de preferência incluindo o PPS – precisam aproximar suas estratégias eleitorais.
– A candidatura a prefeito de Salvador: Essa decisão não está tomada. Eu acho que já cumpri meu papel no Parlamento. Disputar ou não em 2012 vai depender do contexto político e do projeto nacional. Se o momento não for adequado, eu posso aguardar até 2014.

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